“De onde vem este Kotscho?”
Nachali Dvulatk
Uma reunião de grandes histórias, todas contadas com a maneira saborosa e inconfundível de Ricardo Kotscho. O livro “Do golpe ao Planalto – Uma vida de repórter” (Companhia das Letras, 2006, 334 pág, R$46,00) conta não só a história da carreira deste jornalista nos últimos 40 anos, mas ainda a história de um Brasil militar até os tempos de Governo Lula.
O livro que poderia ser descrito como uma autobiografia, também pode ser encarado como um manual do bom jornalismo. Afinal nos seus 40 anos de profissão, Kotscho sempre valorizou o jornalismo contado por outros ângulos e as grandes reportagens. Como na cobertura do desastre aéreo que matou o ex-presidente Castello Branco, em 1967: “Como a razão do acidente demoraria a ser descoberta, achei melhor ir a Quixadá e levantar os derradeiros momentos do ex-presidente. Já que a concorrência era grande, arrisquei-me a deixar a cobertura oficial e fui atrás do que no jargão jornalístico se chama side – as histórias paralelas que ajudam a entender a principal”(pág 42).
Começou na carreira jornalística muito cedo, com apenas 16 anos, primeiro foi ajudante de jornaleiro depois conseguiu emprego na Folha Santamarense, um jornal de bairro, e então nunca parou. Trabalhou n’O Estado de São Paulo, foi correspondente internacional do Jornal do Brasil, em plena redemocratização do País estava na Isto É. Enfrentou, inclusive, uma temporada como diretor de jornalismo da CNT, canal 21 em Curitiba. “De uma hora pra outra, mudaria de uma só vez de cidade, de veículo e de função, já que nunca havia dirigido nada além do meu carro e não tinha a menor idéia de como funcionária uma engrenagem de tv”(pág 206). Anteriormente já havia trabalhado na televisão, mas assumira que foi um desastre como repórter televisivo.
Trabalhou em três das quatro campanhas de Lula, amigo conquistado durante a cobertura das greves dos metalúrgicos do ABC. Com Lula, Kotscho viajou o país com as Caravanas da Cidadania, foi assessor de imprensa das campanhas e encerrou sua carreira em 2004 quando ocupava o cargo de Secretário de Imprensa e Divulgação do Governo
Um amante de grandes reportagens, Kotscho conta foi realizar as que mais marcaram sua carreira. Cobriu o traumático incêndio do edifício Andraus, em 1972. Em Brasília, investigou as mordomias de que gozavam superfuncionários, na série de matérias que o projetou como jornalista, em 1976, e lhe rendeu um prêmio Esso. Pelo Brasil todo, participou ativamente da campanha das Diretas, em 1984. E, entre outros assuntos, escreveu sobre a construção de Itaipu e a febre do ouro em Serra Pelada, numa série de matérias que virou livro.
Já para aqueles que esperavam que o jornalista tentasse explicar os escândalos ocorridos durante o Governo de seu amigo Lula, podem se decepcionar. O jornalista se limitou a descrever a surpresa com que ele e Lula recebiam as denuncias feitas pela impressa nacional. Inclusive adicionou um posfácio, onde segundo o autor é uma “tentativa de repartir com os leitores as angústias vividas por alguém que, desde muito cedo, acreditou num sonho coletivo, nele jogou todas as suas fichas, e agora, como tantos outros brasileiros de sua geração, luta para não deixar a esperança morrer”(pág 301). Kotscho saiu do Governo em 2004 (seis meses antes da crise estourar) por questões pessoais, saudade da família que havia ficado em São Paulo. Conta que encarava com tristeza cada nova denuncia e que as pessoas não acreditavam que ele não sabia de nada e desabafa, “Mas quem iria acreditar que alguém pudesse deixar o governo por livre e espontânea vontade, num país onde as pessoas vendem a mãe e não entregam para chegar ou continuar no poder?”(pág. 300).
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