RESPOSTA - Sonetos
(A.M. Ferreira - 2002)
Se aos teus olhos a vida encontra o fim,
Dos sonhos que tens apaixonada,
Eu lamento que assim te pareça amarga,
Toda a tua vida que triste é para mim.
Tu pareces perdida nesta confusão,
Ainda que te mostres organizada,
A vida é assim mesmo desgraçada,
Mas peço paciência ao teu coração.
O amor é como a prece do dia cedo,
No coração do próximo é um segredo.
Não há ciência no mundo que o explique,
Rimas ou prosas que descomplique,
O que o peito guarda talvez por medo.
Perdoe o poeta se não é claro,
Licença poética é só um pretexto,
Pois na formal estrutura de um texto,
A paixão encontra seu anteparo,
Talvez lhe pareçam frios os versos,
Quem sabe confusos ou até sem vida,
E eu concordo contigo, minha querida,
Mas debruçado sobre a prancheta meço,
O grafite sobre a folha de papel branco,
Encaixo, remendo e nunca me canso,
De escrever, e meus versos não satisfaço,
Não domo o poeta nem o torno manso
O poeta é poeta porque não se sacia,
De escrever e escreve de noite de dia,
Pois a paixão não cabe em um traço.
PARA QUE SERVE A POESIA?
(A.M. Ferreira - 2004)
A Poesia, menina, carrega a dor
Que o próprio homem não suporta
E se não a vês e nem te importa
Se não te toco com a rima que for
Não foi em vão a poesia
Ela vive na esperança de algum dia
Tocar o coração de um outro amigo
Que possa ler nas linhas do não escrito
Que a poesia não está no texto vão
A poesia fala e o texto não
A poesia é eterna e o texto para
A poesia é a alma da oração
E quando a ação do verbo se cala
A poesia fala ao coração.
A Flor Azul
31 dezembro 2006
23 dezembro 2006
BORBOLETA AMARELA
Parte III
Mas, como eu ia dizendo, a borboleta chegou à esquina de Araújo Porto Alegre com a Avenida Rio Branco; dobrou à esquerda, como quem vai entrar na Biblioteca Nacional pela escada do lado, e chegou até perto da estatua de uma senhora nua que ali existe; voltou; subiu, subiu até mais além da copa das árvores que há na esquina – e se perdeu.
Está claro que esta é a minha maneira de dizer as coisas; na verdade ela não se perdeu; eu é que a perdi de vista. Era muito pequena, e assim no alto, contra a luz do céu esbranquiçado da tardinha, não era fácil vê-la. Cuidei um instante que atravessava a Avenida em direção a estatua de Chopin; mas o que eu via era apenas um pedaço de papel jogado de não sei onde. Essa falsa pista foi que me fez perder a borboleta.
Quando atravessei a Avenida ainda procurava no ar, quase sem esperança. Junto à estatua de Floriano, dezenas de rolinhas comiam farelo que alguém todos os dias jogava ali. Em outras horas, além de rolinhas, juntam-se também os pombos, desses grandes, de reflexos verdes e roxos no papo, e alguns pardais; mas naquele momento havia apenas rolinhas. Deus sabe que horários têm esses bichos do céu.
Sentei-me num banco, fiquei a ver as rolinhas – ocupação ou vagabundagem sempre doce, a que me dedico todo dia uns 15 minutos. Dirás, leitor, que esse quarto de hora poderia ser mais bem aproveitado. Mas eu já não quero aproveitar nada; ou melhor, aproveito, no meio desta cidade pecaminosa e aflita, a visão das rolinhas, que me faz um vago bem ao coração.
Eu poderia contar que uma delas pousou na cruz de Anchieta; seria bonito; não seria verdade. Que algum dia deve ter pousado, isso deve, elas pousam em toda parte; mas eu não vi. O que digo, e vi, foi que uma que pousou na ponta do trabuco de Caramuru. Falta de respeito, pensei. Não sabes, rolinha vagabunda, cor de tabaco lavado, que esse é o Pai do Fogo, Filho do Trovão?
Mas esta conversa de rolinha, vocês compreendem, é para disfarçar meu desaponto pelo sumiço da borboleta amarela. Afinal arrastei o desprevenido leitor ao longo de três crônicas, de nariz no ar, atrás de uma borboleta amarela. Cheguei a receber telefonemas: “eu só quero saber o que vai acontecer com esta borboleta”. Havia, no círculo de pessoas intimas, uma certa expectativa, como se uma borboleta amarela pudesse promover grandes proezas no centro urbano. Pois eu decepciono a todos, eu morro, mas não falto à verdade: minha borboleta amarela sumiu. Ergui-me do banco, olhei o relógio, saí depressa, fui trabalhar, providenciar, telefonar... Adeus, pequenina borboleta amarela.
naum fiquem bravos comigo......
não falei q a borboleta fazia milagres....
bjuz a todos
GAtinho te amo!
20 dezembro 2006
BORBOLETA AMARELA
Parte II
Parte II
Eu ontem parei a minha crônica no meio da história da borboleta que vinha pela Rua Araújo Porto Alegre; parei no instante em que ela começava a navegar pelo oitão da Biblioteca Nacional.
Oitão, uma bonita palavra. Usa-se muito no Recife; lá todo mundo diz: oitão da igreja São José, no oitão do Teatro Santa Isabel... Aqui a gente diz: ao lado. Dá no mesmo, porém oito é mias bonito. Oitão, torreão.
Falei em torreão porque, no ângulo da Biblioteca, há uma coisa que deve ser o que se chama um torreão. A borboleta subiu um pouco por fora do torreão; por um instante acreditei que ela fosse voltar, mas continuou ao longo da parede. Em certo momento desceu até perto da minha cabeça, como se quisesse assegurar-se de que eu a seguia, como se me quisesse dizer: “estou aqui”.
Logo subiu novamente, foi subindo, até ficar em face de um leão... Sim, há uma cabeça de leão, alias há várias, cada uma com uma espécie de argola na boca, na Biblioteca. A pequenina borboleta amarela passou junto ao focinho da fera, aparentemente sem o menor susto. Minha intrépida, pequenina, vibrante borboleta amarela! pensei eu. Que fazes aqui sozinha, longe de tuas irmãs que talvez estejam agora mesmo adejando em bando álacre na beira de um regato, entre moitas amigas – e onde vais sobre o cimento e o asfalto, nessa hora em que já começa a escurecer, ó tola, ó tonta, ó querida pequena borboleta amarela! Vieste talvez de Goiás, escondida dentro de algum avião; saíste no Calabouço, olhaste pela primeira vez o mar, depois...
Mas um amigo me bateu nas costas, me perguntou “como vai, bichão, o que é que você esta vendo aí”. Levei um grande susto, e tive vergonha de dizer que estava olhando uma borboleta; ele poderia chegar em casa e dizer: “encontrei hoje o Rubem, na cidade, parece que estava caçando borboleta”.
Me lembrei de uma história de Lúcio Cardoso, que trabalhava na Agência Nacional: Um dia acordou cedo para ir trabalhar; não estava se sentindo muito bem. Chegou a se vestir, descer, andar um pouco junto da Lagoa, esperando condução, depois viu que não estava mesmo bem, resolveu voltar pra casa, telefonou para um colega, explicou que estava gripado, até chegara a se vestir para ir trabalhar, mas estava um dia feio, com um vento ruim, ficou com medo de piorar – e demorou um pouco no bate papo, falou do vento, você sabe (era o noroeste), que arrasta muita folha seca, com certeza mais tarde vai chover, etc., etc.
Quando o chefe de Lúcio perguntou por ele, o outro disse: “Ah o Lúcio não vem não. Ele telefonou, disse que até saiu de casa, mas no caminho encontrou uma folha seca, de maneira que não pode vir e voltou para casa”.
Foi a história que lembrei naquele instante. Tive – por que não confessar? – tive certa vergonha de minha borboleta amarela. Mas enquanto trocava algumas palavras com o amigo, procurando despachá-lo, eu ainda vigiava a minha borboleta. O amigo foi-se. Por um instante julguei, aflito, que tivesse perdido a borboleta de vista. Não. De maneira que vocês tenham paciência; na outra crônica, vai ter mais historia de borboleta.
Sei que não foi bem, no dia seguinte, mas o que vale é a intenção......
detalhe: o texto é de Rubem Braga.....
bjuz a todos
15 dezembro 2006
Todos temos nossos escritores favoritos, e eu não seria diferente... descobri que adora crônicas quando fui obrigada a ler as "200 crônicas escolhidas" de Rubem Braga.... para o vestibular da UFPR (Federal do Paraná)
Então descobri que crônicas e contos não precisam ter grandes histórias de efeitos e nem se quer um final, que todos esperam.... então vou republicar 3 crônicas de Rubem, exatamente como ele as fez... cada dia um pedacinho delas....
PS: Esta é a minha favorita, se um dia eu escrever como ele, já estarei muitoooo feliz...
bjuz a todos, e te amo Al...
BORBOLETA AMARELA
Parte I
Parte I
Era uma borboleta. Passou roçando em meus cabelos, e no primeiro instante pensei que fosse uma bruxa ou qualquer outro desses insetos que fazem vida urbana; mas, como olhasse, vi que era uma borboleta amarela.
Era na esquina de Graça Aranha com Araújo Porto Alegre; ela borboleteava junto ao mármore negro do Grande Ponto; depois desceu, passando em face das vitrinas de conservas e uísques; eu vinha na mesma direção; logo estávamos defrontes a A.B.I. Entrou um instante no hall entre duas colunas; seria um jornalista? – pensei com certo tédio.
Mas logo saiu. E subiu mais alto, acima das colunas, até o travertino encardido. Na Rua México eu tive de esperar que o sinal abrisse; ela tocou, fagueira, para o outro lado, indiferente aos carros que passavam roncando sob suas leves assas. Fiquei a olhá-la. Tão amarela e tão contente da vida, de onde vinha, aonde iria? Fora trazida pelo vento das ilhas – ou descera no seu vôo saçaricante e leve da floresta da Tijuca ou de algum morro - talvez o de São Bento? Onde estaria uma hora antes, qual sua idade? Nada sei de borboletas. Nascera, acaso, no jardim do Ministério da Educação? Não; o Burle Marx faz bons jardins, mas creio que ainda não os faz com borboletas – o que, aliás, é uma boa idéia. Quando eu o mandar fazer os jardins de meu palácio, direi: Burle, aqui sobre esses manacás, quero uma borboleta amare... Mas o sinal abriu e atravessei a rua correndo, pois já ia perdendo de vista a minha borboleta.
A minha borboleta! Isso, que agora eu disse sem querer, era o que eu sentia naquele instante: a borboleta era minha - como se fosse meu cão ou minha amada de vestido amarelo que tivesse atravessando a rua na minha frente, e eu devesse segui-la. Reparei que nenhum traseunte olhava a borboleta; eles passavam, devagar ou depressa, vendo vagamente outras coisas – as casas, os veículos – ou se vendo; só eu vira a borboleta e a seguia, com meu passo fiel. Naquele ângulo há um jardinzinho, atrás da Biblioteca Nacional. Ela passou entre os ramos de acácia e de uma árvore sem folhas, talvez um flamboyant; havia, naquela hora, um casal de namorados pobres em um banco e dois ou três sujeitos espalhados pelos outros bancos, dos quais uns são de pedra, outros de madeira, sendo que estes são pintados de azul e branco. Notei isso pela primeira vez, aliás, naquele instante, eu que sempre passo por ali; é que minha borboleta amarela me tornava sensível às cores.
Ela borboleteou um instante sobre o casal de namorados; depois passou quase junto da cabeça de um mulato magro, sem gravata, que descansava num banco; e seguiu em direção à Avenida. Amanhã eu conto mais.
05 dezembro 2006
Alguns de vocês já conhecem este texto. Já recebi criticas, dizendo que ele é vazio.. e tenho que concordar.
Mas continuo apaixonada pela estrutura dele... então o coloco a provação... vocês me dizem...
bjuz a todos
[Peço um minuto de silêncio para a mediocridade Humana]
Podre hipocrisia terrestre, de humanos que fedem e que de nada valem a não ser suas carnes aos vermes.
Corpos inertes no espaço, que estão preocupados de mais em manter sua gravidade estável para que os outros corpos não se afastem dele. Do que perceber que talvez em outro lugar desta galáxia haja um buraco negro chamado miséria e que vem engolindo tudo ao seu redor.
Podre mediocridade dos humanos. Que de aparências vivem e finge se importar com aqueles que tem menos, só para não se sentirem tão sujos e em estado de decomposição já tão avançado.
Corpos celestes em equilíbrio, que fingem fazer algo de bom para aqueles dentro do alcance da miséria, mas quando o problema ou o pedido vem de dentro de seus tão elevados grupos, nada fazem e se afastam. O equilíbrio celeste desmonta, logo procuram um status de inocentes.
Repugnante beleza dos humanos, que entre bisturis e butox fazem de suas fêmeas verdadeiras experiências cientificas. E quando se sentem egoístas, oferecem em um programa ‘barato’ de domingo a tarde, uns cortes e preenchimentos àquelas fêmeas com vaidade tão ‘barata’ quanto o programa.
União de átomos que antes perdidos no espaço, faziam mais sentido do que agora unidos e egoístas. Concentrados de mais em fingir que suas ações não são por benefício próprio. Pena que a mentira é mal contada pra que eles acreditem.
Detestável verdade humana, que para não se sentir hipócrita, medíocre e repugnante, mente sem envergonhar-se. Não quer se sentir cruel quer se mostrar piedoso àqueles que supostamente precisam.
Galáxia esta, infestada de vermes que só poderiam ser eliminados com a radioatividade atômica de suas armas. Que além de matar aqueles que são julgados sem defesa, faz transbordar de seus corpos o ego. Cruel ego que os matará.
Decomposta alma humana, que a muito se perdeu e que agora esta condenada à morte sem volta. Porque é muito mais que um câncer ou um vírus, é a ganância humana que trará a morte a todos. Não há tratamento, apenas rendição.
Morra podre humano, que destrói e que come os cadáveres de seus ancestrais. Não por necessidade, mas por prazer.
Mas continuo apaixonada pela estrutura dele... então o coloco a provação... vocês me dizem...
bjuz a todos
Mediocridade Humana
Nachali Dvulatk
[Peço um minuto de silêncio para a mediocridade Humana]
Podre hipocrisia terrestre, de humanos que fedem e que de nada valem a não ser suas carnes aos vermes.
Corpos inertes no espaço, que estão preocupados de mais em manter sua gravidade estável para que os outros corpos não se afastem dele. Do que perceber que talvez em outro lugar desta galáxia haja um buraco negro chamado miséria e que vem engolindo tudo ao seu redor.
Podre mediocridade dos humanos. Que de aparências vivem e finge se importar com aqueles que tem menos, só para não se sentirem tão sujos e em estado de decomposição já tão avançado.
Corpos celestes em equilíbrio, que fingem fazer algo de bom para aqueles dentro do alcance da miséria, mas quando o problema ou o pedido vem de dentro de seus tão elevados grupos, nada fazem e se afastam. O equilíbrio celeste desmonta, logo procuram um status de inocentes.
Repugnante beleza dos humanos, que entre bisturis e butox fazem de suas fêmeas verdadeiras experiências cientificas. E quando se sentem egoístas, oferecem em um programa ‘barato’ de domingo a tarde, uns cortes e preenchimentos àquelas fêmeas com vaidade tão ‘barata’ quanto o programa.
União de átomos que antes perdidos no espaço, faziam mais sentido do que agora unidos e egoístas. Concentrados de mais em fingir que suas ações não são por benefício próprio. Pena que a mentira é mal contada pra que eles acreditem.
Detestável verdade humana, que para não se sentir hipócrita, medíocre e repugnante, mente sem envergonhar-se. Não quer se sentir cruel quer se mostrar piedoso àqueles que supostamente precisam.
Galáxia esta, infestada de vermes que só poderiam ser eliminados com a radioatividade atômica de suas armas. Que além de matar aqueles que são julgados sem defesa, faz transbordar de seus corpos o ego. Cruel ego que os matará.
Decomposta alma humana, que a muito se perdeu e que agora esta condenada à morte sem volta. Porque é muito mais que um câncer ou um vírus, é a ganância humana que trará a morte a todos. Não há tratamento, apenas rendição.
Morra podre humano, que destrói e que come os cadáveres de seus ancestrais. Não por necessidade, mas por prazer.